Foi fruto da coincidência mesmo?
 
Singular, o poder de ser diferente, Jacob Petry, Editora Leya, 2013
 

No verão de 1956, Ruth e Elliot Handler, um casal que vivia na Califórnia, fizeram sua primeira viagem à Europa. Lá, certa tarde, Ruth caminhava a esmo pelo centro de uma pequena cidade no interior da Suíça. Viu uma boneca de aparência estranha na vitrine de uma loja de cigarros. A boneca tinha cerca de 30 centímetros de altura, cabelos prateados, coxas longas, quadril acentuado e o mais perturbador: tinha seios grandes. Ruth, em toda sua vida, nunca tinha visto uma boneca assim.

Ruth tinha uma filha de sete anos chamada Barbara. Como Ruth e Elliot não possuíam recursos para levar a menina na viagem, ela ficou na Califórnia, junto com seus avôs. Quando Ruth viu a boneca, logo pensou na filha. Barbara e suas amigas, apesar da idade, ainda gostavam de brincar com bonecas. Ruth pensou um pouco e decidiu comprar a boneca e leva-la como presente para a filha.

Mais tarde, no hotel, ao comentar a fisionomia singular da boneca, Ruth ficou sabendo que ela tinha um nome: se chamava Bild Lilli. Também soube que a boneca não era para crianças. Em alguns países europeus, onde era comercializada, ela era um símbolo sexual vendido para homens adultos. Bild Lilli, na verdade, era uma boneca erótica. Rith, porém, não se importou com a descoberta. Tinha certeza de que sua filha iria gostar do presente e levou assim mesmo.

Ao chegar em casa, entregou a boneca para Barbara. Como imaginava, ela adorou o presente. Nos dias seguintes, Ruth percebeu que a menina não desgrudava do brinquedo. As amigas de Barbara também a adoravam. Passavam o dia brincando com ela. Ruth então teve uma ideia: criar uma boneca com uma feição similar a de Bild Lilli, e coloca-la a venda no mercado. Sua esperança era de que as outras crianças apreciassem a boneca tanto quanto sua filha e as amiguinhas dela.

Com a ajuda de um estilista, Ruth criou o modelo e começou a fabrica-la. Em 1959, o primeiro exemplar da boneca foi colocado a venda. Em homenagem a sua filha, chamou a boneca de Barbie. Era vendida por um custo de três dólares cada. Ainda no primeiro ano, foram vendidas 350 mil bonecas. Um número extraordinário que, nos anos seguintes, se tornaria ainda maior. Até hoje, estima-se que já foram vendidas mais de um bilhão de bonecas Barbie nos 150 países onde ela é comercializada.

Essa é uma história um tanto estranha, não é ? Uma mulher se encontra com uma boneca exótica e decide leva-la para presentear sua filha. Em casa, vendo a menina brincar com a boneca, tem a ideia de criar uma similar e coloca-la a venda. Uma vez no mercado, de uma forma totalmente inesperada, ela se torna um fenômeno de vendas.

Se pensarmos bem, é assim que contamos as histórias de sucesso. Claro que Ruth foi audaciosa, teve criatividade e iniciativa. Mas acreditamos que seu encontro com o produto, assim como o resultado, foi totalmente acidental. Gostamos de dar um ar de coincidência as histórias.

Acreditamos que Barbie, por exemplo, é um produto muito mais da sorte resultante de uma série de acidentes do que de qualquer outra coisa, certo? Mas será que o que levou Ruth Handler a criar a boneca Barbie, assim como tantas outras invenções, realmente tem algo acidental? De onde vem as ideias geniais que transformam o mundo? Será que você nunca teve nenhuma ideia genial? Se sim, por que não a aproveitou?

 

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