A batalha entre os sistemas racional e emocional é esclarecida pelo que os filósofos chamam de Dilema do Bonde. Considere esta hipótese: um bonde desce os trilhos, descontrolado. Cinco trabalhadores estão fazendo consertos mais abaixo nos trilhos, e você, um espectador, rapidamente percebe que todos serão mortos pelo bonde. Mas você também percebe que há uma chave por perto que você pode girar, e isso desviará o bonde para um trilho diferente, onde só um único trabalhador será morto. O que você faz? (Suponha que não existam truques de solução nem informações ocultas.)
Se você for como a maioria das pessoas, não hesitará em girar a chave: é muito melhor ter um morto do que cinco, não é? Boa decisão. Agora temos uma guinada interessante no dilema: imagine que o mesmo bonde desce descontrolado os trilhos e os mesmos cinco trabalhadores correm perigo - mas desta vez você é um espectador em uma passarela que atravessa os trilhos por cima. Você percebe que há um obeso parado na passarela, e percebe que, se você o empurrasse para fora da ponte, seu volume seria suficiente para deter o bonde e salvar os cinco trabalhadores. Você o empurraria?
Se você for como a maioria das pessoas, vai se arrepiar com a sugestão de assassinar um inocente. Mas espere um minuto. Que diferença há desta para sua decisão anterior? Você não está trocando uma vida por cinco? A matemática não funciona da mesma maneira?
Qual é a exata diferença entre estes dois casos? Os filósofos que trabalharam na tradição de Immanuel Kant propuseram que a diferença está em como as pessoas estão sendo usadas. Na primeira hipótese, você simplesmente reduz uma situação ruim (a morte de cinco pessoas) a uma situação nem tão ruim (a morte de uma).
No caso do homem na ponte, ele está sendo explorado como meio para um fim. Esta é uma explicação popular na literatura de filosofia. É interessante observar que pode haver uma abordagem mais baseada no cérebro para compreender o reverso nas decisões das pessoas. Na interpretação alternativa, sugerida pelos neurocientistas Joshua Greene e Jonathan Cohen, a diferença entre as duas hipóteses gira em torno do componente emocional de realmente tocar alguém - isto é, interagir com ele de perto.
Se o problema é construído de modo que o homem na passarela possa cair, com o girar de uma manivela, através de um alçapão, muitas pessoas escolherão deixá-lo cair. Algo em interagir com a pessoa de perto impede que a maioria empurre o homem para sua morte. Por quê? Porque esse tipo de interação pessoal ativa as redes emocionais. Muda o problema, que passa de uma questão de matemática abstrata e impessoal para uma decisão emocional e pessoal.
Quando as pessoas pensam no problema do bonde, aqui está o que revelam as imagens do cérebro: na hipótese da passarela, são ativadas as áreas envolvidas no planejamento motor e na emoção. Já na hipótese da troca de trilhos, só as áreas laterais envolvidas no pensamento racional são ativadas. As pessoas registram emocionalmente quando têm de empurrar alguém; quando só precisam acionar uma alavanca, seu cérebro se comporta como o Spock de Jornada nas estrelas.
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