É muito difícil discorrer sobre o que alguém está pensando se este alguém não quer discutir isso com você, ou não pode fazê-lo por uma razão ou outra. Mas normalmente supomos que essas pessoas que não se comunicam estão de fato pensando (...), mesmo que não possamos confirmar os detalhes.
Isso é bastante óbvio, mesmo que seja porque podemos nos imaginar prontamente em uma situação em que teimosamente nos recusaríamos a nos comunicar, enquanto permanecemos mergulhados em nossos pensamentos íntimos, talvez refletindo com deleite sobre as dificuldades que os observadores estão tendo em descobrir o que está passando em nossas mentes.
O ato de falar (...) não é requisito necessário para se ter uma mente. A partir deste fato óbvio, podemos ser tentatos a chegar a uma conclusão problemática: poderia haver entidades que possuem mentes mas que não podem nos contar o que estão pensando (...) porque não possuem qualquer capacidade linguística.
Por que eu digo que isto é uma conclusão problemática? Primeiro consideremos os pontos a seu favor. Certamente, a tradição e o senso comum dizem que há mentes destituídas de linguagem. Certamente nossa capacidade de discutir com os outros o que se passa em nossas mentes é somente um talento periférico, no sentido como falamos de uma impressora de computador como dispositivo periférico (o computador pode operar sem uma impressora).
Certamente animais não-humanos - pelo menos alguns deles - têm vidas mentais. Certamente as crianças humanas, antes de adquirirem uma linguagem, e os humanos surdo-mudos (...) possuem mentes. Certamente.
Estas mentes podem sem dúvida diferir, de muitas maneiras difíceis de ser percebidas, das nossas mentes - as mentes daqueles que podem entender uma conversação como esta. Mas certamente elas são mentes. Nossa estrada mestra para o conhecimento de outras mentes - a linguagem - não se estende até elas, mas isto é somente uma limitação de nosso conhecimento, não de suas mentes.
Surge então a possibilidade de que haja mentes cujo conteúdo é sistematicamente inacessível à nossa curiosidade - incognoscíveis, inverificáveis, impenetráveis por meio de qualquer investigação.
A resposta tradicional a esta possibilidade é admiti-la. Sim, de fato, as mentes são a terra incógnita por excelência, além do alcance de toda a ciência e - no caso de mentes destituídas de linguagem - além de qualquer conversação empática. E dai?
Um pouco de humildade deve sazonar nossa curiosidade. Não confunda questões ontológicas (sobre o que existe) com questões epistemológicas (sobre como sabemos). Devemos acostumar-nos a este fato maravilhoso sobre o que está fora dos limites da investigação.
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