Jéssica, de 12 anos de idade, contou em segredo a sua amiga Stacey que a garotada da escola a estava pressionando para fazer sexo oral com um colega de classe em certa festa que estava por vir.
- Eles falaram que é um jeito de provar que pertenço ao grupo - ela disse.
Jéssica não tinha certeza de como se sentia a respeito daquela situação. Ela não tinha nenhum interesse sexual pelo garoto, mas estava gostando da idéia de ser o centro das atenções. A pergunta - ela deveria fazer aquilo ou não? - era o assunto de uma especulação excitante na escola.
Jéssica estava acima do peso e nunca tinha feito parte do grupo mais "legal". Stacey, ela mesma desnorteada com a responsabilidade de aconselhar a amiga em um assunto tão emocionante, contou o dilema de Jéssica para seu pai. Este, depois de pensar um pouco, achou que era melhor informar os pais de Jéssica. Eles ficaram chocados, e não tinham idéia nem da situação social precária da filha, nem da pressão que ela vinha enfrentando para ser tornar sexualmente ativa.
Quando eles finalmente levaram suas preocupações a Jéssica, o ato já havia sido consumado. Ela havia sucumbido - neste caso, não por causa das exigências sexuais de um garoto que estava tentando agradar ou com quem gostaria de ter um relacionamento, mas simplesmente pela persuasão de seu grupo de pares.
Como sabemos, o sexo raramente envolve apenas sexo - no caso de Jéssica, com certeza não envolvia. Às vezes, envolve uma fome de se sentir desejado. Pode ser uma fuga do tédio ou da solidão. E pode ser também uma maneira de fortalecer um território ou reinvidicar uma posse, ou pode servir como uma tentativa de ingressar em um relacionamento exclusivo com outra pessoa. (...) Na vida dos adolescentes, o sexo é bem frequentemente uma expressão de necessidades de vínculo não correspondidas.
A idade da primeira experiência sexual está ficando cada vez mais precoce. Segundo um estudo de 1997 do Centro de Controle de Doenças, o número de garotas na oitava série que afirma já ter transado (6,5%) foi mais que o dobro do número de meninas do terceiro ano de ensino médio que se iniciaram sexualmente na mesma idade. (...)
Um garoto de 19 anos, que era uma verdadeira promessa no beisebol, escolhido para integrar o Los Angeles Dodgers em 2003, foi considerado culpado por convidade uma menor a tocá-lo nas partes sexuais, e condenado a 45 dias de prisão. Em outra ocasião, duas garotas, uma de 12 anos e outra de 13, fizeram sexo oral no jovem atleta. Quando foi recorrer a sentença, o jovem argumentou que não ele, mas as meninas tinham iniciado o contato. E por que? As duas supostas vítimas disseram ao tribunal que era normal em sua comunidade que garotas da sétima série oferecessem sexo oral aos meninos. Uma delas disse que participou porque "todo mundo estava fazendo e ela não queria ficar de fora". (...)
[Esses adolescentes] eram intensivamente ORIENTADOS POR SEUS PARES.
- Eu não me sinto ligado à minha família. Meus amigos são muito mais uma família para mim que a minha família verdadeira. Eu não quero nem mais ficar perto deles.
[Nicholas] tinha três irmãs e pais que o amavam. Mas ele não estava se alimentando à mesa da família: Nicholas procurou seus pares para matar sua fome de vínculos. Durante dois anos da adolescência desse garoto, seu pai, um profissional, se tornou totalmente voltado para sua carreira, enquanto sua mãe passou por uma depressão causada por estresse. Um período relativamente curto mas, nesse momento crucial na vida de Nicholas, suficiente para criar o vazio de vínculos que acabou sendo preenchido pelo grupo de pares.
Jéssica também era emocionamente desapegada de seus pais. Só descrevia como eles interferiam em sua vida - uma vida que orbitava em torno de seus pares, (...) em sua fome insaciável por aceitação. (...) Segundo ela, nada era mais importante que ser aceita, querida e requisitada por seus amigos.
(...)
Fatores físicos como o amadurecimento psicológico e hormônios em ebulição não explicam a sexualidade adolescente. Para compreender completamente o comportamento sexual precoce dos jovens, é preciso rever os três conceitos que apresentei nos capítulos anteriores: vínculo, vulnerabilidade e amadurecimento. A chave de tudo é o vínculo, sempre. O fator crítico não é o despertar sexual na adolescência: é o fato de o adolescente orientado por seus pares ser um ser sexual apto a usar qualquer coisa à sua disposição para satisfazer sua necessidade de estabelecer vínculos. Quanto menos a vulnerabilidade e a maturidade estiverem presentes, maior é a chance de essa fome de vínculos encontrar uma expressão sexual.
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