Uma criança de três anos, mal-humorada, aproxima-se do tio, que visita a família e que vira um alvo útil de sua irritação.
"Eu odeio você", declara. "Mas eu te amo", ele sorri de volta, confuso. "Eu odeio você", ela responde mais alto, determinada. "Mesmo assim, eu te amo", diz ele, com mais doçura. "Eu odeio você!", ela grita, dramática. "Continuo amando você", ele reafirma, envolvendo-a em seus braços. "Eu amo você", ela cede suavemente, derretendo-se com o abraço.
Os psicólogos do desenvolvimento vêem interações como essas em termos de comunicação emocional subjacente. A desconexão Eu te odeio/Eu te amo é, de acordo com essa visão, um "erro de interação", e voltar ao mesmo comprimento de onda emocional é "reparar" tal erro.
Um reparo bem-sucedido, como a conexão final obtida entre a menina de três anos e seu tio, faz com que ambos os envolvidos se sintam bem. A falta contínua de reparo surte efeito contrário.
A capacidade da criança de reparar tal desconexão - superar uma tempestade emocional interpessoal e voltar a se conectar - é um elemento essencial para a conquista da felicidade ao longo da vida.
O segredo reside não em evitar as frustrações e os aborrecimentos inevitáveis da vida, mas sim em aprender a se recuperar deles. Quanto mais rápida a recuperação, maior será a capacidade de a criança se contentar.
(...) Todas as crianças que interagem com a criança servem de modelo, para o bem ou para o mal, de como lidar com as dificuldades. Esse aprendizado ocorre de forma implícita à medida que a criança testemunha como um irmão mais velho, colega ou pai/mãe controla as próprias tempestas emocionais. Parte desse aprendizado também continua explicitamente sempre que alguém se lembra ou ajuda a criança a controlar os próprios sentimentos diante das dificuldades.
As crianças aprendem não apenas a se acalmar ou resitir aos impulsos emocionais, mas também a fortalecer o próprio repertório acerca dos modos de afetar os outros. Aí está o alicerce para se tornar um adulto capaz de reagir da maneira que o tio da menina de três anos reagiu ao vencer amorosamente sua irritação - em vez de endurecer e avisar: "Não se atreva a falar comigo desse jeito!"
Aos quatro ou cinco anos, as crianças conseguem passar da simples tentativa de controlar as emoções negativas para a capacidade de entender melhor o que causa sua agonia e o que fazer para aliviá-la - um importante sinal de amadurecimento.
Alguns psicólogos desconfiam que a orientação dos pais nos primeiros quatro anos de vida pode ser particularmente potente na formação das habilidades posteriores de controle adequado das emoções e na segurança de tratamento de situações negativas.
(...) Se tudo der certo, o resultado é uma criança resiliente diante do estresse e capaz de se recuperar das aflições e sintonizar-se bem com os outros. É necessário ter uma família socialmente inteligente para ajudar a construir o que os psicólogos do desenvolvimento chamam de "núcleo afetivo positivo"- em outras palavras, uma CRIANÇA FELIZ.
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