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O Pateta é real

Disney War, James B. Stewart, 2006, Ediouro
 
É final de maio no centro da Flórida, um dia luminoso e límpido. Apesar de serem apenas 10 da manhã, os termômetros já marcam 32 graus e a umidade também está alta. Não é preciso muita imaginação para acreditar que o Reino Animal, um dos quatro parques temáticos que compõem o Walt Disney World, fica realmente na África tropical.

Pateta está parado junto à cerca do parquet, pronto para fazer uma apresentação. Assim como os turistas num safári na África esperam avistar um dos "cinco grandes" animais de caça, os visitantes do Reino Animal procuram os "cinco grandes" da Disney: Mickey, Minnie, Donald, Pluto e Pateta, as maiores celebridades do panteão Disney e os autógrafos mais cobiçados. Pateta é um cachorro com focinho comprido, orelhas caídas, uma pequena barriga e grandes patas . Também é o personagem mais alto, com mais de 1,80 metro, e nesse dia está vestido para o Reino Animal. Usa um grande chapéu de safári, sapatos e meias para caminhada, short verde com estampa de dinossauro, camisa xadrez e suspensórios vermelhos e um lenço cáqui no pescoço.

O que muita gente não percebe é que a visão do Pateta não está muito boa. As orelhas compridas obstruem sua visão periférica e o nariz avantajado a prejudica ainda mais. O que ele mais enxerga é o chão perto de seus pés. Felizmente, Pateta tem dois ajudantes humanos que o orientam pelo parque. Eles abrem uma porta e delicadamente o empurram adiante. Pateta não sabe realmente onde se encontra, mas escuta o murmúrio de vozes a distância. Está nervoso e sente o coração batendo. Apenas alguns segundos se passam e ele ouve: "Olhem o Pateta!"

Ele escuta mais vozes de crianças e vê várias delas correndo em sua direção. Pateta acena e demonstra o tolo "passo do Pateta", uma de suas marcas registradas. As crianças o amam! Outras se aproximam correndo, e seus pais tentam alcançá-las. De repente Pateta vê uma garota bem perto dele. Parece ter 5ou 6 anos, e está um pouco apreensiva. Ao se aproximar, ela timidamente estende um livro de autógrafos e uma caneta. Pateta pega a caneta desajeitadamente com a pata e consegue assinar na primeira página, tomando cuidado para fazer o "e" invertido, como sempre aparece na assinatura do Pateta. Realmente um alívio que os cachorros não saibam falar.

- Abrace o Pateta! - diz uma voz de adulto. A garota parece um pouco temerosa, mas Pateta estende o abraço e ela se encosta nele. Ele a abraça delicadamente. Então, por um momento, Pateta enxerga com clareza o rosto da menina. A timidez passou ,seus olhos aumentam de prazer , seu rosto resplandece. Ela se estica e dá um beijo no focinho do Pateta.

Os flashs espoucam. Pateta gostaria de erguer a pata para enxugar as lágrimas que subiram repentinamente a seu solhos. Ou talvez seja transpiração. O momento em que a apreensão de uma criança desaparece, sendo substituída por admiração e prazer, é no que a maioria dos funcionários da Disney pensa quando usa a palavra "magia" para descrever seu trabalho. É por isso que muitos vêm trabalhar como estudantes colegiais e continuam lá vinte anos depois. Pateta é real, é claro. Ele era real para aquela garota, e naquele momento era real para mim. Eu não era mais um autor e jornalista vestindo camadas de enchimento e pele falsa. Eu era o Pateta.

Embora faça parte da orientação-padrão para os altos executivos da Disney aparecerem como personagens nos parques temáticos, só depois que aceitei o papel de Pateta me disseram que não poderia escrever sobre ele, pelo menos não de uma maneira que afirmasse ou deixasse implícito que o Pateta era um ator dentro de um a fantasia. Os encarregados dos parques temáticos tinham imposto essa condição, alegando que a ilusão de que os personagens da Disney são reais nunca havia sido quebrada publicamente com a cooperação da companhia.

A princípio achei irracional. Isso é quase tão verossímil quanto a existência de Papai Noel, e certamente todo mundo com mais de 8 ou10 anos sabe que há pessoas dentro daquelas roupas. Mas o pessoal que trabalha nos parques insistiu, e depois que os conheci passei a compreender melhor. Praticamente tudo dentro do Disney World é ilusão: mais bonito, mais limpo, mais seguro, melhor e mais divertido que o mundo real. Foi genialidade de Walt Disney reconhecer que não são só as crianças que querem escapar da realidade. Como qualquer bom mágico, você precisa acreditar na ilusão, ou ela se desfaz. É uma crença circular adotada de maneira tão apaixonada por tantos americanos que o nome Disney tornou-se sinônimo de uma cultura americana idealizada, na qual os sorrisos se tornam realidade.
 

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