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Nossa capacidade de prever o futuro

O que nos faz felizes, Daniel Gilbert, 2006, Editora Campus
 
O que você faria neste exato momento se soubesse que iria morrer em dez minutos?

Fumaria aquele cigarro escondido em sua gaveta de meias há três décadas? Entraria na sala de seu chefe com uma lista de defeitos dele? Correria à churrascaria mais próxima para comer um bom pedaço de carne cheio de gordura? Difícil, não? Mas, de tudo o que você farai em seus últimos dez minutos de vida, provavelmente nenhuma delas foi realizada hoje.

Agora, algumas pessoas lamentariam o fato e lhe apontariam o dedo, dizendo com severidade que você deveria viver a cada momento de sua vida como se fosse o último, o que na verdade, só serve para mostrar que algumas pessoas passariam seus dez minutos de vida dando conselhos inúteis aos outros.

É claro que tudo o que fazemos quando achamos que a vida vai seguir em frente é muito diferente daquilo que faríamos se soubéssemos que ela terminaria de uma hora para outra.

Reduzimos a gordura e o cigarro, achamos graça das piadas sem graça dos nossos superiores, lemos livros como este enquanto poderíamos esar numa banheira de espuma bebendo champagne, e fazemos tudo isso em prol das pessoas que seremos num futuro próximo.

Tratamos essas pessoas que seremos no futuro como um filho, dedicando grande parte de nosso tempo à construção de um amanhã em que esperamos fazê-las felizes. Em vez de cedermos às tentações presentes, escolhemos nos responsabilizar por aqueles que seremos, armazenando, todo mês, uma parcela de nosso pagamentos para que ELES tenham uma aposentadoria feliz.

Fazemos exercícios e passamos fio dental regularmente para evitarmos doenças cardíacadas e problemas na gengiva, toleramos fraldas sujas e repetições tediosas de Atirei o Pau no Gato para que eles possam ter, algum dia, um neto de bochechas gorduchas pulando no colo. (...)

Na verdade, toda vez que queremos algo - uma promoção, um casamento, um carro, um cheeseburger -, esperamos que, ao consegui-lo, seja num segundo, num dia ou numa década a partir de agora, a pessoa com nossa impressão digital, ao colher os frutos de nossos investimentos e dietas, aproveite a herança, honrando assim, os sacrifícios que fizemos.

Tudo bem, mas (...) tal como nossos filhos, nosa prole futura é ingrata. Trabalhamos incessantemente para darmos exatamente o que achamos que ELES vão querer, e aí eles vão embora pensando o quão burros fomos em achar que era aquilo que eles queriam. (...) Mesmo aquele pessoa que está comendo o lanche que acabamos de comprar na loja de conveniências talvez faça cara feia e nos acuse de ter comprado o lanche errado.

É claro que ninguém gosta de ser criticado, mas se temos o hábito de lutar com afinco por coisas que nos farão felizes no futuro (...), parece razoável para eles (ainda que seja um pouco de ingratidão) dar uma olhar depreciativa para trás e imaginar que diamos tínhamos em mente. Talvez reconheçam a nossas boas intenção e dêem conta, meioa a contragosto, de que fizemos o melhor possível, mas inevitavelmente, irão se lamentar com seus terapeutas que nosso melhor não era bom o bastante para eles.

Como isso pode acontecer? Não deveríamos conhecer os gostos, preferências, necessidades e desejos das pessoas que SEREMOS no próximo ano - ou pelo menos hoje a tarde? Não deveríamos entender nossoso futuros "eus" bem o suficiente para dar forma à sua vida - achar a carreira, o parceiro que irão acalentar, comprar capas de sofás que irão apreciar nos anos vindouros?

Então por que terminam com sótãos e vidas tão entulhadas de coisas consideradas indispensáveis e que eles acham dolorosas, constrangedoras e inúteis? Por que criticamos as escolhas que fazemos de nossos parceiros amorosos, duvidamos de nossas estratégias profissionais e pagamos uma grana para remover as tatuagens pelas quais pagamos um outra grana para fazer? (...)

Tudo isso seria mais compreensível se tivéssemos sido negligentes como eles, se os tivéssemos ignorado ou maltratado em algum aspecto fundamental - mas, ora bolas, demos a eles os melhores anos de nossas vidas! Será que há algo de errado com eles? Ou conosco?

Quando eu tinha dez anos, o objeto mais mágico de minha casa era um livro de ilusão de ótica. (...) o desenho de um cálice que, de repente, se transformava num par de silhuetas e, num piscar de olhos, voltava a ser um cálice. Ficava olhando o livro durante horas, humilhado pelo fato de que aqueles simples desenhos forçavam o cérebro a acreditar em coisas que eu sabia com toda a certeza que não passavam de ilusão.

Foi quando aprendi que é interessante errar e assim comecei a planejar uma vida em que os erros estivessem presentes. Só que uma ilusão de ótica não é interessante apenas porque conduz alguém a um erro; o mais interessante é que ela conduz TODO mundo ao MESMO erro. Se eu visse o cálice, você veria o Elvis e um amigo nosso um outro personagem qualquer, então poderíamos estar olhando para um belo borrão de tinta.(...) Os erros aos quais a ilusão de ótica induz tem uma lei, são regulares e sistemáticos. Não são erros burros, são erros inteligentes. (...)

Os erros que cometemos quando tentamos imaginar nossos futuro também têm esta lei, são regulares e sistemáticos. Da mesma forma, têm um padrão que revela os poderes e limites da previsão, assim como as ilusões revelam os poderemos e limites da visão.

Este livro descreve o que a ciência tem a nos dizer sobre a capacidade da mente humana de imaginar o próprio futuro e o quão bem ela pode fazer isso, sua capacidade de prever este futuro e se essa previsão acertará qual desses futuros será o melhor para nós.

 

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